terça-feira, 20 de setembro de 2011

A luz dos olhos meus

Há exatamente um ano, eu passava pela intervenção cirúrgica que me deu uma nova córnea, e a possibilidade de melhorar muito a minha visão. Não era aquela a primeira cirurgia, ainda em 2010, eu havia feito a primeira operação da minha vida, e a segunda, e a terceira... aquela já era a quarta operação num intervalo de seis meses, todas nos olhos, sendo que a terceira foi um transplante que acabou não dando certo.

A cirurgia foi ótima (dentro do que pode ser uma cirurgia) e a córnea transplantada comportou-se muito bem. Iniciava-se, logo depois, uma recuperação adjetivada pela minha médica, Dra. Juliane Paranhos, como fantástica. A rápida acomodação, a ausência de oscilações de grau e de curvatura da córnea e a progressiva melhora da visão foram comemorados a cada revisão, a cada exame.

Os passos que venho dando nesse ano não são apenas clínicos, a melhora da minha visão me ajudou muito a 'enxergar' a minha vida, as minhas relações e meu horizonte de outra maneira. Eu costumo dizer que estou vendo melhor em todos os sentidos. Desde que saí do hospital, ainda vendo pouco (apenas com o olho direito, ainda doente) senti tudo de forma diferente. As visitas, as mãos, as vozes, tudo passou a ter muito mais importância, eu passei a me atentar para detalhes incríveis da vida. E com a melhora da visão, a luz, as cores e os movimentos foram ganhando, além de nitidez, beleza e graça antes não provadas.

Agora eu quero, um ano depois, agradecer. As mãos que fizeram o transplante (todas). A capacitada e corajosa Juliane Paranhos, que domina um tipo arriscado de cirurgia, e me encorajou fazê-la. A minha Mãe, a meu Pai e a meu Irmão, de maiúscula dedicação e amor, e aos outros da minha família, que nunca me deixam só. Aos meus amigos, que me visitaram, que rezaram, que pensaram positivo por mim. A quem teve que morrer para dar a luz aos olhos meus, para me ajudar a ver melhor cores, movimentos, luz e formas, mas mais do que isso, sentido.

Outro transplante, agora no olho direito, virá, mas enxergar melhor em todos os sentidos foi o presente e a responsabilidade que aquela cirurgia e a córnea nova me deram.


Neto.



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Eu acabava de nascer

Nunca foi tão precioso como daquela vez. Os recentes sonhos de um homem louco virando uma realidade mais gostosa que os sonhos, algo que não havia experimentado.
A cidade era a mesma, as ruas eram iguais, a noite rodeada de lampadas de mercúrio, tinha o mesmo vento que acompanhava as pedras do calçamento, e o homem era o mesmo - até aquele momento - armado de graças e atirando seu sorriso espalhafatoso.
O que torna aquele momento o exato momento-eternidade é a  dona dos sonhos daquele homem, que na verdade não passava de um garoto. Aquela mulher, com mil canções, cem viagens e uma dezena de línguas, de um balanço delirante e um olhar desbravador, que havia cativado os sonhos do louco, o arrancou do chão naquela noite, e era tudo real, e tão avassalador.
Aquele homem, então, passou a ser um novo ser, passou a ser eu, que nasci daquele amor que brotou na pedra. Eu não deixei de ser louco, de atirar risadas espalhafatosas, mas nesses dois meses minha alegria nunca foi igual. Mesmo com as dores, a alegria, íntima da esperança, me contagiou, me equipou de força, de desejos, de vontades, e envolve o amor que sinto pela mulher que me deu vida, há dois meses.

"E até quem me vê lendo jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei"


Neto, Giuseppe.